Inadimplência permaneceu em 28,6% da população, mas percentual de consumidores que não terão condições de pagar dívidas vencidas é o maior do ano
O endividamento das famílias brasileiras aumentou pelo segundo mês seguido, atingindo 78,5% em abril. A Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), apurada mensalmente pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), demonstrou que a taxa está 0,2 ponto percentual mais alta do que em abril do ano passado. O aumento do número de pessoas com dívidas no cartão de crédito, cheque especial, carnê de loja, crédito consignado, empréstimo pessoal, cheque pré-datado e prestações de carro e casa demonstra haver maior demanda por crédito.
Conforme o presidente da CNC, José Roberto Tadros, esse movimento é reflexo da queda da taxa de juros, que estimula o acesso ao crédito por conta de um menor custo financeiro. “As projeções da Confederação indicam que o endividamento deve continuar em ascensão, o que exigirá maior atenção ao risco de aumento da inadimplência, especialmente no fim do ano”, afirma Tadros.
A inadimplência se manteve estável em 28,6% da população, porém o número de consumidores que afirmaram não ter condições de pagar suas dívidas vencidas foi o maior no ano, chegando a 12,1% dos entrevistados. Esse aumento da dificuldade de pagamento foi acompanhado pelo crescimento de 0,4 ponto percentual na parcela de famílias consideradas “muito endividadas”, que atingiu 17,2%, maior patamar desde janeiro.
Endividamento sobe entre os mais pobres e cai entre os mais ricos
Conforme explica o economista-chefe da CNC, Felipe Tavares, a Peic de abril mostra que a população de renda menor foi a principal responsável pelo aumento do endividamento geral, embora tenha havido incremento também nas demais categorias. As famílias com renda até 3 salários mínimos tiveram avanço de 0,7 ponto percentual no endividamento, chegando a 80,4% do total. Para aqueles com renda entre 3 e 5 salários, o crescimento foi de 0,4 ponto percentual, levando a 79,7%; as famílias com renda entre 5 e 10 salários tiveram aumento de 0,5 ponto percentual, atingindo 75,5% de endividamento. Por fim, aquelas com mais de 10 salários foram as que menos aumentaram seu nível de endividamento: 0,3 ponto percentual, elevando o indicador a 71,7%.
Em relação ao mesmo mês do ano passado, as famílias com renda abaixo de 5 salários mínimos estão mais endividadas, enquanto as classes mais altas (as que recebem entre 5 e 10 salários mínimos e acima de 10 salários) reduziram seu endividamento. A diminuição mais expressiva foi no grupo dos mais ricos, que recebem acima de 10 salários – a queda foi de 75,3% para 71,7%. “O aumento do endividamento sugere uma melhoria das condições de renda das famílias mais pobres”, aponta Felipe Tavares. O economista-chefe destaca, no entanto, que é importante que os consumidores busquem educação financeira para evitar a inadimplência.
Ricos mais inadimplentes
No que diz respeito às dívidas em atraso, as classes de maior renda apresentaram aumento da inadimplência. As famílias com renda entre 5 e 10 salários aumentaram, de 20,7% para 22,2%, o indicador entre março e abril; as que recebem mais de 10 salários subiram de 14,3% para 14,6% no mês. Por outro lado, a população com renda mais baixa registrou uma redução da inadimplência para 35,8%, percentual menor do que no mês anterior e do que em abril de 2023 (quando o valor estava em 36,4% e 36,3%, respectivamente).
Taxa menor de juros favorece endividamento imobiliário
Com referência às modalidades de crédito, o cartão de crédito permanece como a principal fonte de endividamento, sendo utilizado por 87,1% dos devedores. Por outro lado, carnês e cheque especial continuaram perdendo representatividade na carteira de crédito dos consumidores.
O financiamento imobiliário apresentou o maior crescimento anual, resultado da redução dos juros médios da modalidade, que atingiram o menor patamar desde fevereiro de 2022, com 8,87% em fevereiro de 2024.
Paranaenses são os mais endividados
O Paraná foi o estado com o maior nível de endividamento, atingindo 90,3% no mês. Em relação à inadimplência, o Rio Grande do Norte destacou-se como o estado com o maior percentual de famílias com contas em atraso (55,9%). O Amazonas apresentou o maior número de famílias incapazes de pagar suas dívidas atrasadas, com 21,7%.
Confira aqui a análise e a série histórica
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