Quinta queda consecutiva do Índice de Confiança do Empresário do Comércio foi puxada pela redução de 4,4% na avaliação da economia atual
O Índice de Confiança do Empresário do Comércio (Icec), apurado mensalmente pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), registrou 109,9 pontos em setembro, representando uma queda de 1,6% em relação a agosto. Esse número marca a quinta retração consecutiva e a mais intensa desde abril. Comparado a igual mês do ano anterior, o recuo foi de 2,9%.
Um ponto crítico que se destacou foi a confiança dos comerciantes em relação às condições atuais da economia, que sofreu recuo de 4,4% em relação ao mês anterior. Como resultado, o subindicador que mostra a avaliação do varejista em relação às condições atuais caiu 2,5%, a quinta redução consecutiva, mantendo-se abaixo da zona de satisfação, aos 84,3 pontos. Esse subindicador continua sendo o único a permanecer abaixo da marca dos 100 pontos, refletindo o pessimismo dos empresários em relação ao momento atual. No entanto, a taxa de crescimento do comércio ampliado em julho, de 7,2%, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), ainda sugere um desempenho positivo, embora a expectativa seja de desaceleração nos próximos meses.
Para o presidente do Sistema CNC-Sesc-Senac, José Roberto Tadros, o cenário econômico brasileiro é desafiador. “A perspectiva de mais inflação continua pressionando a confiança dos empresários, principalmente os do varejo”, afirma. Segundo ele, o recente aumento da taxa Selic, apesar de seu objetivo de conter a inflação, traz uma necessidade maior de prudência. “O custo do crédito mais elevado reduz a capacidade de investimento e consumo, e isso se reflete diretamente no otimismo do comerciante”, aponta.
Apesar da cautela, intenção de investir volta a crescer
Mesmo diante de um ambiente econômico mais adverso, os varejistas indicaram uma intenção de aumentar o investimento em suas empresas, com esse indicador registrando crescimento de 0,6%, o único item com variação positiva no mês. Esse índice de intenção de investimentos voltou a superar o nível de satisfação, alcançando 100,7 pontos, algo que não acontecia desde fevereiro de 2023. Esse movimento é visto como uma tentativa de estimular o comércio e mitigar a queda observada na Intenção de Consumo das Famílias (ICF), também medida pela CNC.
No entanto, a criação de novas vagas de emprego não é uma prioridade no momento, com o subindicador de intenção de contratação registrando uma queda de 1,2%, ainda que o nível permaneça elevado, aos 121,9 pontos. Essa retração está alinhada com a percepção de piora no mercado de trabalho para os próximos meses, apontada pela ICF.
O economista-chefe da CNC, Felipe Tavares, analisa que a incerteza deve ser a tônica dos próximos meses. “Apesar de alguns sinais positivos, o cenário de juros e inflação ainda gera muita cautela. A melhora pontual no investimento não deve ser vista como uma tendência estável, mas sim como uma resposta a condições específicas do momento”, ressalta.
Segmento de bens semiduráveis apresenta melhora nas expectativas
Entre os setores analisados, a queda da confiança foi mais acentuada no segmento de supermercados, farmácias e lojas de cosméticos, que recuou 2,9%. O comércio de vestuário, tecidos e calçados teve um desempenho mais contido, com queda de 0,5%, enquanto o de produtos duráveis, como eletrodomésticos e veículos, registrou uma queda de 2%.
Apesar do pessimismo geral, o segmento de bens semiduráveis foi o destaque positivo, com crescimento de 2,1% na intenção de investimento, o maior avanço entre os setores. Por outro lado, a percepção em relação à economia atual foi negativa para todos os segmentos, com destaque para o de bens não duráveis, que sofreu uma redução mensal de 6,3%.
A percepção sobre as condições atuais do comércio entre os varejistas de supermercados, farmácias e lojas de cosméticos foi a mais afetada, com uma queda de 3,2%. Esse segmento também ficou abaixo do nível registrado em setembro de 2023, com uma retração anual de 8,4%. Já para os empresários do ramo de eletrônicos, eletrodomésticos e veículos a percepção teve uma leve melhora na comparação anual, com crescimento de 2,8%, mesmo com uma queda mensal de 2,1%, resultado das condições mais favoráveis de juros em relação ao ano anterior.